Naquele dia 31 de março de 1964, minha mãe foi buscar meu irmão e eu mais cedo na escola. E várias outras mães fizeram o mesmo.
Foi muito bom ir para casa mais cedo, mas, quando perguntei por quê, não houve resposta. Ou então "porque sim".
Nas ruas e em casa, silêncio. Ninguém falava nada. Dúvidas? Perplexidade? Medo? Só vim a saber alguns anos depois, já adolescente.
Da tortura só tomei conhecimento lá pelos 18 anos. Nos grupos sociais não envolvidos com a ditadura e com a resistência a ela, nada se comentava.
Na Copa de 70, quando o Brasil foi tricampeão, enquanto eu e a multidão comemorávamos nas ruas, muita gente estava sendo torturada ou morta nos porões da ditadura. Governo Médici, milagre econômico.
Meu namorado participava de reuniões na universidade, naquela época proibidas. Amigas e amigos meus também. Porém, eu continuava meio que alienada da realidade. A censura permitia isso. Nada era divulgado claramente.
Vim a saber anos depois que as mães e os pais de amigos meus haviam morrido não por doença, como me foi dito, mas sim porque haviam sido torturados e assassinados. Os pais da minha melhor amiga tinham ido passar uns tempos na Europa para passear. Passear? Foi para fugir.
Posteriormente, já sabendo de tudo o que havia acontecido, tive a oportunidade de participar do movimento das diretas-já, da eleição de Tancredo, da volta da democracia.
Hoje o Brasil é outro, e temos a responsabilidade de lutar para que sejamos sempre um país democrático, para que nós, nossas filhas e nossos filhos, nossas netas e nossos netos, enfim, as futuras gerações possam sempre viver onde se possa exercer a cidadania livremente, dizer o que se pensa, escrever o que se quer e votar da maneira que acharmos melhor.
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