Mônica Francisco
Não posso iniciar minha coluna sem demonstrar meu repúdio total à charge em que uma mulher, presidente de um país de maioria feminina, é representada de joelhos, imobilizada e prestes a ser assassinada por um homem branco, terrorista e fundamentalista religioso.
Não posso deixar em branco a repulsa por ver a morte de um adolescente, por conta da opção sexual dos pais. Algo está muito errado nessa sociedade. Temo que estejamos ficando cada vez mais doentes socialmente. Mas vamos à nossa conversa!
Ainda na esteira das comemorações do Dia Internacional da Mulher, não podemos deixar passar mais uma conquista, que vem aliar-se à luta contra todas as opressões e violências cometidas contra as mulheres em nosso país.A Lei do Feminicídio, sancionada no último dia 9 pela presidente Dilma, institui uma página nova na luta histórica pelo fim da categorização da mulher como cidadã de segunda classe. Mas há algo que ainda precisamos pontuar em relação à ela, a lei. É que ao conjunto de situações previstas como sendo tipificadoras do crime, somente estão relacionadas a violência doméstica e as questões de gênero.
Alguns leitores podem dizer que quando temos a fatia maior, não nos contentamos a não ser que tenhamos o bolo inteiro. Mas não tipificar uma questão central como o racismo, é continuar à invisibilizar a luta das mulheres negras, que além de sofrerem historicamente as violências tipificadas na lei em questão, são penalizadas também por sua cor de pele, isso é fulcral.
A brutalidade dispensada às mulheres negras, ultrapassa o limite do doméstico e perpassa as relações institucionais. Não é à toa que trago essa reflexão. O Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), em uma pesquisa realizada e que compreendeu um período de dez anos(2001 a 2011), e dados mais recentes de 2013, demonstram que as principais vítimas(61%) do chamado Feminicídio, são negras e jovens, tem entre 20 e 29 anos e são as mais assassinadas no Nordeste do país, chegando à(87%) dos casos do total nacional.
Ora, isso, utilizando somente uma fonte importantíssima de dados. Se compilássemos todos os dados de todas as grandes e importantes fontes de dados, seria mais do que suficiente. Não se trata de especificações por simples ideologia ou em benefício próprio, já que faço parte do contingente de mulheres negras do Brasil.
É constatar que é preciso dar nomes aos bois, a todos eles. Grande avanço, que junto á Lei Maria da Penha, nos contempla enquanto pertencentes ao feminino, mas não podemos e eu não posso deixar de fazer alusão a essa terrível realidade enfrentada por nós mulheres negras e que está diretamente ligada à longevidade das sequelas da escravização de seres humanos de pele negra.
Sigamos todas confiantes!
"A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!"
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)
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